Severino Ngoenha em debate ao lado do moderador Nelson Lineu |
Para Severino Ngoenha, filósofo e reitor da Universidade
Técnica de Moçambique (UDM), o escritor deve traduzir nas suas obras o sofrimento
do povo, mas ao mesmo tempo transmitir esperança. “ Não
existe escrita, nem literatura, sem sonho”, defende o mais afirmado filósofo
moçambicano.
Ngoenha defendeu em mesa literária de domingo dia 25, no Festival
Literatas que, a literatura moçambicana ainda está a ser construída. E chama
aos escritores emergentes a tomar parte dessa construção. A nova safra de
escritores deverá regar a semente lançada pelos pioneiros da literatura
moçambicana.
Numa altura em que se assiste o conflito de gerações em várias
artes, incluindo a literatura, o filósofo acredita que esse factor poderá forjar
uma produção literária sólida e disse “se não tivéssemos conflitos, teríamos
uma produção literária homogénea”.
O filósofo falava no debate que abriu o último dia do
Festival LITERATAS com o tema “Literatura no universo de outros saberes”. Foi
um casamento perfeito entre a filosofia e a literatura. Mas a história reza
que, este relacionamento nem sempre foi pacífico. Outrora, a literatura e a
filosofia ocupavam espaços antagónicos, conforme deu a conhecer o professor,
quando falava dos momentos deste relacionamento.
No momento grego, o primeiro numa linhagem cinco, (dois
dos quais acrescentados pelo próprio filósofo, sendo o africano e o moçambicano)
a filosofia e a literatura ocupam espaços antagónicos. A filosofia para existir
deve matar a filosofia.
O momento alemão reaproxima a filosofia da literatura.
Mas ainda assim, as duas áreas não se equipararam, pois distingue-se dois
níveis de saber, em que a filosofia é superior, e a literatura inferior.
No momento francês, assiste-se uma reaproximação. Tal
reaproximação apenas é efectivada no momento africano. O momento africano começa
na diáspora, nos Estados Unidos da América, na América do Sul, com o chamado
renascimento negro. Em que assiste-se uma afloração da literatura feita por
africanos, disse ainda Ngoenha.
Severino Ngoenha defende que existe o momento filosófico
africano e o moçambicano. E se questiona no entanto, “e o momento moçambicano?
É um já, e ainda não”. O filósofo interpreta esse impasse pela necessidade de
se produzir em cada vez mais acompanhando a qualidade e a quantidade.
Daí que o filósofo entende que esse caminho deverá ser
trilhado pelos jovens, sem a ausência dos mais velhos que servirão de suporte
para que se chegue ao destino desejado que é o de efectivação de uma literatura
e filosofias sólidas. Para isso, acrescentou, é preciso que a escrita desses
jovens ganhe causas e que seja engajada, transmitindo ao povo uma esperança,
numa escala que já foi iniciada por Noémia de Sousa no poema “Deixe o meu povo
passar”.
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