terça-feira, 27 de outubro de 2015

Literatura e Filosofia com Severino Ngoenha

Severino Ngoenha em debate ao lado do moderador Nelson Lineu

Para Severino Ngoenha, filósofo e reitor da Universidade Técnica de Moçambique (UDM), o escritor deve traduzir nas suas obras o sofrimento do povo, mas ao mesmo tempo transmitir esperança. “ Não existe escrita, nem literatura, sem sonho”, defende o mais afirmado filósofo moçambicano.

Ngoenha defendeu em mesa literária de domingo dia 25, no Festival Literatas que, a literatura moçambicana ainda está a ser construída. E chama aos escritores emergentes a tomar parte dessa construção. A nova safra de escritores deverá regar a semente lançada pelos pioneiros da literatura moçambicana.

Numa altura em que se assiste o conflito de gerações em várias artes, incluindo a literatura, o filósofo acredita que esse factor poderá forjar uma produção literária sólida e disse “se não tivéssemos conflitos, teríamos uma produção literária homogénea”.

O filósofo falava no debate que abriu o último dia do Festival LITERATAS com o tema “Literatura no universo de outros saberes”. Foi um casamento perfeito entre a filosofia e a literatura. Mas a história reza que, este relacionamento nem sempre foi pacífico. Outrora, a literatura e a filosofia ocupavam espaços antagónicos, conforme deu a conhecer o professor, quando falava dos momentos deste relacionamento.
No momento grego, o primeiro numa linhagem cinco, (dois dos quais acrescentados pelo próprio filósofo, sendo o africano e o moçambicano) a filosofia e a literatura ocupam espaços antagónicos. A filosofia para existir deve matar a filosofia.

O momento alemão reaproxima a filosofia da literatura. Mas ainda assim, as duas áreas não se equipararam, pois distingue-se dois níveis de saber, em que a filosofia é superior, e a literatura inferior.

No momento francês, assiste-se uma reaproximação. Tal reaproximação apenas é efectivada no momento africano. O momento africano começa na diáspora, nos Estados Unidos da América, na América do Sul, com o chamado renascimento negro. Em que assiste-se uma afloração da literatura feita por africanos, disse ainda Ngoenha.

Severino Ngoenha defende que existe o momento filosófico africano e o moçambicano. E se questiona no entanto, “e o momento moçambicano? É um já, e ainda não”. O filósofo interpreta esse impasse pela necessidade de se produzir em cada vez mais acompanhando a qualidade e a quantidade.


Daí que o filósofo entende que esse caminho deverá ser trilhado pelos jovens, sem a ausência dos mais velhos que servirão de suporte para que se chegue ao destino desejado que é o de efectivação de uma literatura e filosofias sólidas. Para isso, acrescentou, é preciso que a escrita desses jovens ganhe causas e que seja engajada, transmitindo ao povo uma esperança, numa escala que já foi iniciada por Noémia de Sousa no poema “Deixe o meu povo passar”.

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