terça-feira, 27 de outubro de 2015

Melita Matsinhe dá o toque final ao Literatas


Depois de dois dias consecutivos marcados por manifestações artísticas de diversa ordem desde conversas literárias, exposições, artesanato, sessões de pintura, teatro, feira de livros, dança e música, coube a cantora moçambicana Melita Matsinhe dar o toque final do festival Literatas 2015.

Poesia misturada com música foi o prato servido pela cantora que fez questão de brindar ao público também, com alguns passos de dança. Digamos que foi uma espécie de consumação cultural.

Para quem achava que a literatura está só em livros, Melita Matsinhe nos desafia a pensar diferente, não sei se poesiando a música ou musicando a poesia.

Os seus temas remetiam-nos sempre ao pensamento de identidade, fazendo o convite para a viagem em temas como “Sonha” que foi um dos marcos da sua actuação.

Foi desta forma que terminou o primeiro festival literário realizado na Matola, no Posto Administrativo da Machava Sede, LITERATAS 2015

Nunca antes houve tanto culturismo num só lugar, um casamento de artes sob a sombra de Samora Machel que deixou ficar a frase: Cultura, o sol que nunca desce. Que assim seja, e a literatura agradece.

Fotos por: Hamilton Chambela

Influência do contexto na produção literária

Juvenal Bucuane, Aurélio Furdela, Dionísio Bahule (moderação) e José dos Remédios

Em mais uma sessão de mesa literária, Dionísio Bahule, moderou um debate sob o tema: "A influência do contexto na produção literária". Bahule, convidou a uma "sentada ao Sol da literatura" os escritores Juvenal Bucuane e Aurélio Furdela e o jornalista e crítico literário, José dos Remédios.

O escritor Juvenal Bucuane falou da necessidade de se navegar para o campo teórico da literatura, apesar de reconhecer que, ele é um exemplo claro de um escritor que não navega para a teoria da literatura. O escritor disse ainda que, cada circunstância tem influência naquilo que é a produção literária de cada literata. Para sustentar a sua argumentação, Juvenal Bucuane, deu exemplo da poesia feita nos primeiros anos que seguiram a independência. Para o escritor, aquela era "uma poesia de circunstância". "A circunstância tem influência na produção literária, mas tem que se olhar para a qualidade... Quando surge a AEMO (Associação de Escritores Moçambicanos), entendeu que (o contexto) devia mudar", salientou Juvenal Bucuane.

Para finalizar, o escritor que recentemente lançou a obra "O Fundo Pardo das Coisas", motivou os literatos mais jovens a cultivar o escritor que lhes reside. "Não desistam e conturbem o obstáculo. Eu persisti, fui a testa contra os obstáculos", disse Juvenal Bucuane.

Quem não ficou para trás no grande debate, foi o escritor Aurélio Furdela. Para este, o escritor não pode ficar distante de tudo o que lhe rodeia e do momento em que vive. Segundo Furdela, muitas vezes, o escritor sente-se pressionado pelas elites políticas. No entanto, este é um "contexto que legitima o escritor".

O autor de obras “As hienas também sorriem", deixou claro que, a escrita literária difere de acordo com o seu contexto. "A escrita não é igual entre o antes e o depois. O contexto da criação literária vai mudando", salienta Furdela.

Por seu turno, o jornalista cultural da Soico Televisão (Stv) e do jornal "O País", e crítico literário, José dos Remédios, aproveitou a ocasião para curar as mentes do público atento aos seus argumentos. Segundo dos Remédios, a literatura moçambicana é muito antiga. "A literatura moçambicana começa antes de ser Moçambique. Moçambique não termina no Zumbo e nem na fronteira com a África do Sul".

José dos Remédios deu ainda, uma pequena aula de história literária. Segundo dos Remédios, o que o Ocidente poderá ter trazido é a escrita, mas não se pode ignorar a tradição literária oral de África.
O jornalista e crítico literário, José dos Remédios, explicou que a identidade moçambicana não está apenas nas raízes e que, "a necessidade de fazer diferente contribuiu para o aparecimento de elementos estéticos". Daqui, justifica José dos Remédios que, nasce a qualidade literária moçambicana. "O grande fantasma da geração Charrua trouxe ao grupo qualidade literária... O acto de produção literária é individual", disse dos Remédios.


Segundo este crítico, a realidade forma o escritor. Cada escriba é resultado do meio e do momento que vive. "As histórias que vivemos. Os livros que lemos... Influenciam na pessoa que quer ser bom escritor... A poesia de combate é qualquer coisa poesia de propaganda, de legitimação de um regime... O contexto vai contribuir para a produção literária... Um autor não pode fugir da sua realidade..." salientou o jornalista e crítico literário, José dos Remédios.